SOBRE

Sempre senti que histórias são como portas discretas, esperando silenciosamente para serem abertas. Meu trabalho é construí-las e convidar você a atravessar—porque é só quando alguém passa por elas que esses mundos ganham vida e significado.

SOBRE

Yuri Flagrare aprendeu cedo que as histórias podiam ser abrigo. Mudou de cidade algumas vezes na infância, viu amigos irem e virem, mas encontrou nos livros companheiros fiéis e inseparáveis. Entre páginas e personagens, sentiu nascer uma vontade de também contar as próprias histórias. Aos sete anos, escreveu seu primeiro “livro” num projeto escolar – um conto infantil encadernado e posto na estante da biblioteca, orgulhosamente ao lado de autores consagrados. Naquele instante, enquanto via seu nome dividindo espaço com tantos outros, o menino sonhador percebeu que também poderia criar mundos e convidar pessoas a habitá-los. Foi ali que a jornada de contador de histórias começou, silenciosa e constante, alimentada pelo encanto da fantasia e pelo poder das palavras.

Na adolescência, Yuri mergulhou ainda mais fundo nos universos da imaginação. Inspirado por obras como O Senhor dos Anéis, Harry Potter e As Crônicas de Nárnia, aventurou-se a esboçar um romance próprio – uma saga que ele reiniciou inúmeras vezes, acompanhando seu próprio amadurecimento. Esse projeto monumental evoluiu com ele ao longo dos anos, ganhando corpo e alma, embora permanecesse inacabado. Com o tempo, Yuri percebeu que antes de domar uma epopeia era preciso lapidar a arte de concluir histórias. Decidiu praticar em menor escala: voltou-se aos contos, histórias curtas onde poderia experimentar ideias e, principalmente, treinar desfechos. Foi ali, entre tentativas e páginas escritas nas madrugadas, que suas narrativas começaram a encontrar caminho para fora da gaveta.

Dessa fase de experimentação surgiram contos que logo ganharam vida própria. Yuri participou de concursos literários, oficinas de escrita e ousou publicar algumas de suas histórias curtas. Cada conto era um pequeno universo completo, e aos poucos ele passou a ver seu nome em coletâneas e sites. Dezessete desses contos foram publicados ao longo de sua trajetória – dezessete mundos distintos, moldados por sua imaginação inquieta. Do suspense à fantasia, da ficção científica ao drama intimista, ele explorou gêneros diversos, sempre guiado pela curiosidade e pelo desejo de desafiar a si mesmo. Para Flagrare, cada conto publicado era como abrir uma nova porta e permitir que outros pudessem espiar os universos que fervilhavam em sua mente.

Buscando disciplina e ainda mais fôlego criativo, Yuri embarcou em um projeto audacioso: contar micro-histórias diariamente. Nasceu assim o @ATAR365, um experimento em que, durante um ano inteiro, ele escreveu e publicou um microconto por dia. Foram 444 microcontos ao final do projeto – pequenos flashes de narrativa que, somados, representaram um mosaico de ideias, estilos e sentimentos distintos. A cada dia uma semente de história brotava em poucas linhas, e nesse ritual diário ele descobriu a beleza da concisão e o rigor da persistência. Nem todos os dias eram fáceis – houve tardes de inspiração rara e noites de bloqueio criativo –, mas Yuri persistiu. O exercício lhe ensinou que mesmo as menores histórias podem carregar verdades poderosas, e que a criatividade, como um músculo, se fortalece com o uso contínuo.

Em seguida, ele decidiu experimentar a interação direta com o público. No projeto “historiativa”, Yuri transformou o Twitter em um terreno fértil para uma narrativa colaborativa. A dinâmica era simples e inovadora: todos os dias ele escrevia um trecho de uma história e, em seguida, lançava aos leitores uma enquete, deixando nas mãos deles os rumos do capítulo seguinte. Os votos decidiam o destino dos personagens, e Yuri escrevia o próximo passo conforme a vontade coletiva. Nessa dança criativa entre autor e audiência, mais de 600 tweets teceram um conto único, vivo e imprevisível. A experiência mostrou que contar histórias também é um ato de ouvir – de dar voz ao público e aceitar o inesperado como parte do processo criativo. Foi um período desafiador e recompensador: a cada manhã, ele acordava sem saber onde a trama iria dar, exercitando o desapego do controle absoluto e celebrando a construção conjunta de um mundo ficcional com seus leitores.

O ano de 2020 trouxe um novo capítulo importante. A dedicação de Yuri às histórias o levou a uma parceria memorável: ele foi convidado a co-escrever, em regime de writers’ room, o primeiro volume de um livro ao lado de André Vianco, um dos grandes nomes da literatura de terror e fantasia no Brasil. Trabalhar ao lado de um autor consagrado foi tanto um desafio quanto uma validação de seu caminho. Durante meses, em reuniões criativas, ideias de Yuri e Vianco entrelaçaram-se em uma única narrativa, unindo visões e vozes diferentes numa só obra. O manuscrito resultante ainda aguarda pelas vias de publicação, em negociação com editoras, mas o aprendizado foi imediato. Ao final do projeto, Yuri não apenas havia adquirido novas habilidades e confiança, como também recebeu o convite para continuar na coautoria do volume dois dessa saga. A colaboração com Vianco foi como vislumbrar um novo patamar – a confirmação de que aqueles mundos que ele cria podem se conectar com universos de outros autores e alcançar voos mais altos.

Paralelamente à escrita literária, Yuri expandiu seus horizontes para o universo dos jogos. Apaixonado por game design e pelas possibilidades imersivas que os jogos oferecem, ele passou a atuar também como designer narrativo. Ofereceu seu tempo e talento de forma voluntária em equipes independentes, como no Froglet Games e no grupo World of Turnips, contribuindo para criar histórias dentro de jogos. Nesses projetos colaborativos, ajudou a dar vida a personagens, cenários e tramas interativas, traduzindo palavras em experiências jogáveis. O trabalho voluntário não apenas lhe permitiu retribuir à comunidade indie, mas também aprimorar sua capacidade de contar histórias em diferentes mídias. Afinal, criar um mundo para um jogo – com suas regras, mistérios e possibilidades de exploração – revelou-se uma extensão natural da sua vocação de criador de mundos. Cada diálogo escrito, cada cenário imaginado e cada fio de história incorporado a esses jogos foi um novo aprendizado sobre como envolver as pessoas de forma ativa nas narrativas.

Agora, Yuri Flagrare encontra-se diante de novos e empolgantes desafios pessoais e criativos. Atualmente, dedica-se a desenvolver “Titancare”, um jogo indie solo que une sua experiência em programação e seu olhar de narrador. Trata-se de um roguelike simulativo ambientado em um futuro distópico, onde ele busca proporcionar viver a memória de um mundo em esquecimento. Simultaneamente, Yuri mergulha na escrita de “Ghost Egg”, um romance litRPG entrelaçado com horror cósmico. Essa obra em desenvolvimento carrega influências de histórias e mundos que o marcaram profundamente: Neon Genesis Evangelion, Shadow of the Colossus, God Eater e Solo Leveling servem de inspiração para compor uma narrativa única. Em Ghost Egg, Yuri explora os limites do real e do fantástico, confrontando personagens com mistérios ancestrais e desafios quase divinos, enquanto brinca com elementos de jogos dentro da literatura. É um projeto ambicioso que reflete a convergência de todas as suas paixões – literatura, jogos, mitologia moderna e, sobretudo, a construção de mundos ricos em detalhes e emoções.

Ao longo dessa caminhada, Yuri manteve acesa a chama que o motivou desde o princípio: o amor por contar histórias. Seja escrevendo contos em uma madrugada silenciosa, desenhando a arquitetura de uma cidade fictícia para um jogo ou alinhavando capítulos de um romance épico, ele preserva a essência curiosa daquele garoto leitor que sonhava em dialogar com seus ídolos nas estantes. Décadas depois, esse criador de mundos continua deixando pegadas de imaginação por onde passa. Em seu site pessoal – flagrare.tech –, Yuri reúne suas aventuras narrativas, compartilhando bastidores de projetos e convidando quem se interesse a adentrar nesses universos de ficção. É lá que suas múltiplas facetas se encontram: o programador e o poeta, o jogador e o escritor, o aprendiz e o criador experiente.

No fim das contas, Yuri Flagrare acredita que uma história não tem começo nem fim definitivos – apenas portas de entrada. Cada conto, jogo ou romance que ele cria é um portal aberto, uma oportunidade de conexão entre o contador de histórias e o mundo. E enquanto houver novas ideias batendo à porta de sua mente, ele continuará abrindo caminhos, desbravando narrativas e convidando outros a explorá-las. Porque nada o realiza mais do que imaginar um universo e vê-lo ganhar vida no coração de alguém.

Essa é a sua identidade: manter acesa a chama da narrativa.